Olha a cobra, Borboleta 13
- Yasmin Ferreira
- 5 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Teresinha Leonice Hevane dos Santos tem 69 anos e trabalha há 38 anos entre a Rua Monsenhor Celso e a Rua XV de Novembro, vendendo jogos de azar. Nascida em Aberlardo Luz, Santa Catarina, divisa com o Paraná, veio para Curitiba ainda muito nova. Na capital, diz ter feito muito trabalho extra antes de virar lenda na cidade. Trabalhou como faxineira, cozinheira e catadora de papel. Viúva há 25 anos, tem seis filhos: Jackson, Emerson, Jerônimo, Odenílson, Sandra Mara e Joelson César. Sem medo, a dona da voz mais conhecida da cidade usa “seu dom” para sustentar a casa. Ela lembra que desde criança tinha a voz muito característica e sempre era escolhida para recitar poemas nas festas da escola. “Minhas professoras sempre falavam pra diretora me chamar lá na frente, minha voz era diferente das outras crianças.”

Teresinha começou a vender loterias com a amiga Filisbina Bárbara, 72, diz ter aprendido tudo com ela e que será eternamente grata. “Ela me ajudou muito, me ensinou tudo que sei hoje. Devo tudo a ela e a vózinha, que ficava com as minhas crianças pra eu vir pra rua.” Sempre fez seu próprio sustento somente pela venda de jogos de loteria. Em 2005 foi contratada para trabalhar na divulgação de uma ótica, em que trabalhou por oito anos com carteira assinada, exercitando sua voz e simpatia para angariar clientes. No entanto, teve problemas com a nova gerência, e teve que procurar a justiça para ter os seus direitos garantidos. Decidiu voltar para a esquina que lhe trazia muito lucro. Com um sorriso no rosto ela conta que ganhou um bom dinheiro com o processo contra o antigo emprego e também conseguiu se aposentar. Em seguida fecha o sorriso e, de forma desanimada, diz que o movimento da rua caiu. Consequentemente suas vendas diminuíram. “As pessoas não sabem jogar, como tem muitas opções elas acabam se confundindo, mesmo assim vendo bastante, a cobra é a que mais sai. Gosto de trabalhar aqui”, afirma.
A mulher, mais conhecida como Borboleta 13, almoça diariamente em um restaurante na Rua Barão do Rio Branco. Lá ela come sem pressa. “Naquele lugar todos são meus amigos, com ou sem dinheiro, eu como do mesmo jeito.” Ela, que sempre foi “bocuda” com os filhos em casa usou disso para favorecê-los, grita com intensidade e usa de toda a sua persuasão para convencer o público que o seu produto é bom, seja no jogo ou nos comércios em geral. Teresa é uma mulher simples, é a mesma de sempre. Não tem luxo. Gosta de andar de chinelo de dedo e sorri para todos que passam apressados por ali. Ela começou a vender bilhetes por necessidade e, com muita força, realizou o sonho de ter sua casa própria, que fica no bairro Tatuquara.
Em 1985 conheceu um japonês da classe alta próximo ao seu ponto de vendas, conversaram por alguns minutos e ele pagou o bilhete para ela jogar. “Era um rapaz bem vestido, conversamos sobre várias coisas. Ele me disse que era bem de vida, que não precisava de mais dinheiro”. Ela aceitou, jogou e ganhou 10 mil reais. Com essa quantia comprou um terreno e construiu uma casa de madeira, hoje reformada de alvenaria. Ao contrário do que alguns meios de comunicação divulgaram, a casa não foi presente de ninguém, foi conquistada através de seu próprio trabalho.
Em 1988 seu marido foi assassinado, então Teresinha teve que levantar a cabeça e batalhar sozinha para criar seus filhos. Reconhecida por quase todos os curitibanos, ela diz adorar Curitiba e o momento em que vive representa uma recompensa após tantos anos de luta.
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