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Um mundo de sons

  • Marieli Prestes
  • 17 de jun. de 2018
  • 3 min de leitura

Crystielli Kapp. Uma jovem de olhos azuis, cabelos longos e claros, com personalidade e opinião únicas. Formada em fotografia, largou as lentes há algum tempo e se jogou em um mundo de novas descobertas, ainda mais do que já se descobriu, ou melhor, redescobriu.



Crystielli Kapp


Desde pequena, por volta dos seus 4 anos, notava-se que Crys, apelido pelo qual é mais conhecida, sempre ficava perto demais das televisões para assistir qualquer coisa que fosse. Na escola, sempre a encontrava nas primeiras carteiras da turma. Assistia filmes somente com legenda. Os fones de ouvido sempre estavam altos demais e foram detalhes como esses que chamaram a atenção de sua professora, que por sua vez conversou com seus pais que procuraram por um médico.


Aos 14 anos foi diagnosticada com perda de audição e a partir daí sua vida se transformou. “Antes do diagnóstico eu nunca havia percebido que tinha algo errado porque eu não conhecia o outro lado da moeda, não sabia o que era ‘ouvir bem’ como os outros”, contou Crys. Durante o processo de adaptação com o aparelho auditivo, o maior medo por parte de sua médica e de seus pais era de que justamente por estar na fase da adolescência, ela não se adaptasse tão bem, mas que acabou mostrando o contrário. “Depois que eu comecei a usar o aparelho, eu passei a gostar muito do barulho de digitação do teclado do computador, porque antes eu não conseguia ouvir.”


Após o diagnóstico é feito um molde para o aparelho auditivo. Esse molde é feito através do preenchimento do canal auditivo com massa. O plano de saúde que Crys tem cobre todos os custos e toda vez que o seu antigo aparelho estraga ela têm o direito de pedir um novo. “Existem aparelhos muito tecnológicos, mas é um mercado muito caro e poucas pessoas têm ou terão acesso. E mesmo assim eles ainda não atendem necessidades básicas como ser à prova d’água, por exemplo”, relata.


Em meio a tantos anos convivendo com aparelhos, toda vez que ela volta ao seu consultório médico sente uma emoção em ver pessoas saindo de lá com o seu aparelho pela primeira vez e ouvindo tantos sons, barulhos e ruídos que antes não conseguiam. E além disso, ela também sente essa sensação consigo mesma toda vez que troca as pilhas do seu aparelho ou quando chega um novo.


As pessoas ao seu redor demonstram as mais diferentes reações, mas a mais comum entre todas é o despertar da curiosidade, do querer saber como é e como funciona. “Elas ficam curiosas, perguntam, mas logo esquecem porque não é algo visível, é algo que interfere de maneira bem pontual na minha vida, então elas esquecem mesmo”.


E entre tantas pessoas e situações, o preconceito surge também de diferentes maneiras. Crystielli conta já ter perdido oportunidades de emprego por preconceito e por ter precisado fazer a entrevista sem o seu aparelho auditivo (a pedido da própria empresa) e que a falta de inclusão de deficientes auditivos está muito atrasada no Brasil, principalmente porque a linguagem de sinais não recebe a mínima atenção durante a educação fundamental e média. Os problemas auditivos que são corrigidos por aparelhos também não se dispõem de muita informação e as pessoas não sabem como funcionam e aí se torna mais fácil descartar aquela pessoa de algum círculo. “Creio que a grande maioria do preconceito parte da ignorância mesmo, mas também o cantor Lucas Lucco lançou um clipe com linguagem de sinais que achei sensacional, o que é um sinal de que alguma coisa para melhor está mudando”. Conscientizar, discutir, abordar, ensinar as mais diversas linguagens no ensino básico, abrir os olhos para as mais diferentes realidades mundo afora é necessário e mais do que urgente para que a inclusão de fato aconteça e não apenas fique no papel.




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