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Inversão de horários: mulheres que trocam o dia pela noite

  • Gabrielle Sversut
  • 5 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

“Muita irritabilidade, muitas vezes devido ao sono e ao cansaço”. É assim que Sheyla Rodrigues de Oliveira se sente. A mais de 15 anos ela passa as noites acordada, não por insônia, muito menos por lazer, mas sim porque é enfermeira de um posto de saúde. Ela cobre o turno da noite, das 19 horas da noite às sete horas da manhã. No horário em que a maioria das pessoas dormem, ela é uma das milhares que permanece acordada para manter funcionando serviços que atendem às demandas crescentes da população. Sua declaração descreve o que grande parte dos trabalhadores noturnos sentem. Além do cansaço e o sono, outros danos podem ser causados, tanto na saúde física quanto na mental.

O trabalho noturno existe desde o início da vida social dos homens e atualmente, devido ao aumento da população e de suas necessidades, os turnos em horários alternados estão sendo introduzidos de forma crescente para suprir o atendimento à sociedade moderna.

Nos últimos anos, o número de mulheres no mercado de trabalho foi progressivo, isso inclui nos períodos noturnos. As mulheres estão exercendo diferentes profissões. É o caso de Emy Araújo e Pamela Rocha.

Operadora de máquinas em uma fábrica de embalagens plásticas, Emy, 48, trabalha há três anos nessa área. Seu turno começa às 23 horas e termina às sete da manhã. Viu no trabalho uma oportunidade de ter um salário melhor. Além da jornada noturna, ela ainda trabalha meio período durante o dia em um salão de beleza. “Por conta da minha jornada dupla é visível o meu cansaço e a minha irritabilidade. O meu tempo de descanso é muito curto e o barulho me impede te der um sono tranquilo.”

“Começo a ter pique depois das 17h e só vou ter sono às 5h30, 6h.” Notívaga assumida, Pamela, 23, se sente mais disposta durante a noite. Ela acorda por volta das 15h e trabalha até às três horas da manhã como bartender. Acordar cedo é uma tortura, o relógio tem que despertar várias vezes e preferir programas noturnos são alguns dos sinais que confirmam que Pamela é uma pessoa da noite. Por esses e outros fatores, ela resolveu tentar ajustar sua vida social e profissional ao seu ritmo biológico.


PROBLEMAS CAUSADOS

Sheyla, Emy e Pamela fazem parte dos mais de 13 milhões de brasileiros que trocam o dia pela noite. Isso equivale a 15% da população nacional, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2016.


Se manter acordado durante a madrugada tem como vantagem um salário mais alto, porém a inversão de horários pode trazer prejuízos para a saúde. Devido à alteração do relógio biológico, algumas doenças ficam mais propensas a surgirem, entre elas doenças cardiovasculares, distúrbios hormonais, digestivos, neuropsicológicos, alteração comportamental e emocional. As mulheres que trabalham durante a noite também correm mais risco de câncer de mama, segundo uma pesquisa realizada por Anders Knutsson, da Universidade de Umea, Suécia. Os prejuízos à saúde foram visíveis para Emy.


Além da saúde, problemas psicossociais também podem aparecer, já que a rotina é diferente da família e da comunidade em que está inserido. Os desencontros de horário afetam a interação social.


SEGURANÇA


Outra preocupação das mulheres que trabalham à noite é em relação à segurança na hora de ir e voltar do trabalho, o que na maioria das vezes acontece durante a madrugada. “Eu termino meu expediente entre às 3h e 3h30. Normalmente tento pegar carona com alguém, quando não dá pego um táxi ou um uber. É perigoso voltar sozinha, ainda mais de transporte público. Esperar à noite em ponto de ônibus não dá”, conta Pamela.



Emy, que trabalha tanto à noite como durante o dia, sente a mudança de comportamento entre os dois períodos.

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