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Amor pela profissão: a vida atrás do volante

  • Leonardo Gomes
  • 5 de abr. de 2018
  • 4 min de leitura

Mais de um milhão e meio de pessoas são transportadas todos os dias pelos ônibus coletivos de Curitiba. Cada uma delas têm um destino diferente. Um horário a cumprir. Uma tarefa a ser realizada. Em meio a tantas conexões, terminais e estações tubo, alguns personagens se destacam. São os profissionais essenciais para o funcionamento da frota viária. Pessoas que estão no mesmo local todos os dias cumprindo as mesmas rotas e fazendo parte da vida de milhares de pessoas.


Entre eles está Miguel Taborda, 68, que trabalha há mais de 45 anos como motorista do transporte coletivo em Curitiba. Taborda é um dos motoristas mais experientes do transporte coletivo de Curitiba e é considerado como um profissional “emérito”. Aposentado desde 1995, ele ainda está em atividade. Miguel já testemunhou inúmeras mudanças no sistema de transporte da capital e participou de momentos históricos.


“Eu inaugurei o primeiro ônibus articulado, em 1978, participei da estreia da linha interbairros, em 1982. Em 1990, eu inaugurei o ligeirinho, fui eu quem trouxe o prefeito e o governador na época. E em 1995, estreou o biarticulado. Eu fui o primeiro a entrar no Santa Cândida/Capão Raso e estou lá até hoje”, conta.


Com tantos anos de profissão, Taborda conta que já fez muitos amigos e viu muitas mudanças no trânsito de Curitiba. Para ele, hoje o trabalho está bem mais tranquilo, mas diz que já viu de tudo nos ônibus. “Olha, todo dia tem alguma coisa diferente. Tem mãe perdendo o filho, pedinte, tarado, homem rasgando o fundo da bolsa das mulheres… tem de tudo.”

O INÍCIO DE TUDO


Miguel Taborda viveu seus primeiros anos de vida em Tunas do Paraná, na Região Metropolitana de Curitiba. Mais especificamente em uma região conhecida como “Tigrinho”. Aos 14 anos, junto com sua mãe, se mudou para o município de Quatro Barras, onde viveu por sete anos. Em 1970, chegou no bairro Atuba, em Pinhais, local onde mora até hoje.


No ano seguinte, junto com seu irmão, foi à procura de trabalho. Depois de meses de busca sem sucesso, Miguel vai acompanhado de seu irmão até a empresa de ônibus Glória. O primeiro contato é marcado para a semana seguinte: um teste admissional para preencher uma vaga de motorista. No dia da avaliação, 46 candidatos estavam reunidos em frente a empresa. Taborda, com 21 anos na época e tendo recém tirado a carteira de motorista, também estava lá. Ele é aprovado no teste e o processo de contratação é iniciado, mas um detalhe quase fez com que Miguel não conseguisse o emprego.


E desde esse dia, 16 de setembro de 1972, Miguel Taborda permanece trabalhando na mesma empresa. O primeiro ônibus que ele dirigiu foi o da linha São João/Tiradentes. Depois trabalhou por 14 anos na linha Ahú/Los Angeles. Em 1991 assumiu o comando do Ligeirinho até 1995, quando começou a conduzir o biarticulado Santa Cândida/Capão Raso. Sendo esta a linha em que permanece trabalhando até hoje.

O REFÚGIO



Quem vê Taborda trabalhando todas as manhãs atrás do volante nem imagina o que ele faz fora do ambiente de trabalho. O motorista veterano conta que tem praticamente um “refúgio” em que quase todos os finais de semana está lá. Trata-se do “Tigrinho”. Uma área de pouco mais de 1 alqueire (aproximadamente 24.000m²), em Tunas do Paraná, a mesma região em que nasceu.


“Quase toda sexta-feira eu vou lá. Tem tanque de peixes, casa, churrasqueira. Tudo pronto para aproveitar, é só levar a carne e a coberta”, conta. Taborda explica que o local ficou abandonado por muito tempo, e que em 2005, em virtude de uma promessa feita pela família buscando a melhora de um neto que estava doente, houve uma retomada da aproximação com o local.


Taborda teve a ideia de pagar a promessa reunindo a comunidade da região na antiga capela e fazer um grande almoço beneficente. Desde então, junto com sua família e amigos realizam as confraternizações no local. Com os eventos, Taborda observou a necessidade de reformas na antiga capela e na estrutura do local. “A gente terminou as obras em 2007, e hoje tá tudo pronto, tudo arrumado! Você pode chegar lá agora abrir as janelas e ouvir o barulho da água. É uma maravilha.”


Nos momentos de lazer, Taborda aproveita para fazer o que mais gosta, pescar e caçar. No “Tigrinho” ele costuma fazer as duas coisas, mas a pesca vai muito além do limites de seu “refúgio”. Como um bom pescador que se preze, histórias não faltam.


“Já pesquei um peixe de 34 kg e não foi fácil. Eu e o meu sobrinho passamos o dia inteiro na represa [do Capivari] e nada dos peixes, meu sobrinho queria desistir mas eu insisti que tinha que esperar. Era onze horas da noite quando pegamos o bicho”, explica.

O currículo de pescador de Taborda também inclui competições e para quem duvidar de alguma história, ele faz questão de comprovar com fotos.

Uma outra paixão que Taborda manteve por alguns anos foi aproveitar momentos de lazer acompanhado de seu acordeon. Para ele, aquelas ocasiões em que a família e amigos estavam reunidos era a oportunidade perfeita para tocar o instrumento.


Em 2017, Taborda teve um problema de saúde que o impediu de tocar acordeon, desde então ele só guarda na memória os momentos em que o instrumento fez parte das festas e confraternizações em família.

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