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Uma vida que não era para ser minha

  • Bruna Gazabin
  • 2 de abr. de 2018
  • 6 min de leitura

Nem sempre conseguimos traçar o tipo de vida que queremos para nós mesmos. A incerteza de fazer uma faculdade, achar o amor de nossas vidas ou ter filhos. Aqui começa a história de Amanda*.


Seu sonho sempre foi ter uma família, bem estruturada e feliz. Seu sorriso e carisma sempre encantou todos a sua volta. Sua necessidade de ajudar os outros sempre esteve em primeiro plano, mesmo que não estivesse ao seu alcance. No decorrer dos anos, seu brilho foi se perdendo e o sentimento de pena foi crescendo ao olhar das pessoas que eram próximas de sua vida.


Nascida no interior de Maringá, sua família sempre foi humilde. Com a morte de seu pai, quando tinha 3 anos de idade, a sua família começou a enfrentar dificuldades que jamais imaginavam passar.


Sua mãe e irmãos tiveram que se mudar para a casa do tio. A sua casa era cheia de parentes e, consequentemente, muita gente para pouca comida.


Amanda lembra que, na hora de dormir, todos da casa sempre brigavam, pois não havia camas e espaço suficiente para todos. “Era muito raro dormir sozinha em uma cama”.




NAMORO E PROSTITUIÇÃO


Já na adolescência conheceu Marcos*, seu namorado que, alguns anos depois, virou seu marido. Ela se apaixonou rapidamente e o namoro foi um modo para se afastar da vida conturbada que ela vivia com a sua família. No início, Amanda não tinha condições para fazer qualquer tipo de agrado que envolvesse dinheiro. Ela se prostituía para conseguir juntar dinheiro e comprar presentes para seu amado — Marcos descobriu apenas cinco anos depois do fim do relacionamento.

Em pouco tempo, eles começaram a morar juntos. Marcos lembra que em algumas brigas, ele começou a perceber um resquício de que algo estava errado em Amanda. “As vezes, ela ameaçava se matar se nós terminássemos o namoro.”


CASAMENTO E NASCIMENTO


Os anos foram passando, eles começaram uma vida juntos e se casaram. Amanda era organizada e Marcos era um sonhador, que almejava sempre por conquistas grandiosas em sua vida e para sua família. Os dois se completavam e se apoiavam.

Mas a família que sempre sonharam ainda estava incompleta. O casal queria uma filha. E alguns meses depois tiveram a Ana*. A pequena foi o símbolo de felicidade e harmonia que Amanda e Marcos precisavam.

Ficaram casados por 16 anos. Faziam muitas viagens, planos de comprar uma casa maior e até morar fora de Curitiba.


DEPRESSÃO


Depois de algum tempo, Amanda descobriu ter depressão. Na época ela trabalhava em uma multinacional de tecnologia. Ela foi demitida. A empresa alegou que “sua produtividade estava decaindo”.

Nas suas idas ao psiquiatra, ela tentava entender como tudo começou. E que alguns fatos de seu passado a assombravam e a fazia pensar em coisas que poderia fazê-la se machucar. Sua mentalidade foi piorando.

Foram várias tentativas de suicídio. Ao todo, ela passou por cerca de dez clínicas psiquiátricas.

Mas ela escondia um segredo — o uso de drogas — que junto com sua doença, só a fazia piorar.


TRAIÇÃO E DROGAS


Seu casamento estava desgastado. Amanda sempre estava em clínicas e Marcos viajando a trabalho. Os dois se afastaram, e só tinham contato para dar notícias de sua filha.

Seu marido pediu divórcio, após descobrir que Amanda o traía com um vizinho, Alex*, há algum tempo.

Devido as viagens de Marcos, Amanda ficava longas temporadas sozinha. Tudo começou com uma amizade entre ela e o vizinho. Após algum tempo, virou rotina o caso de amor. O proibido era uma espécie de aventura.

Alex era usuário de cocaína. Foi através dele que Amanda começou a adquirir o vício, que junto com a depressão a levou a uma sequência de perdas em sua vida.


PERDA DA FILHA


Amanda perdeu seu casamento, seu marido e sua filha de seis anos. Com o processo de separação, a guarda de Ana foi passada para Marcos e por alguns meses uma medida restritiva foi feita para distanciá-la de sua filha. Nesse meio tempo, Ana estava morando com seu pai em Foz do Iguaçu.

“Foi a maior dor que eu tive na minha vida. Viver sem a minha filha”.

Para o juiz que fez o processo de separação, Amanda não tinha condições mentais de cuidar de si mesma, por isso Ana teve de ser tirada de sua mãe.


SEGREDO


Amanda acabou viciada em cocaína. Esse segredo só veio a tona para sua filha, ex-marido e família anos depois do fim do casamento.

Ela entrou no mundo das drogas. Demorou cerca de dez anos para ficar “limpa”. Segundo ela, uma sequência de fatos a fez chegar no fundo do poço, e de lá não conseguia achar forças para sair.

Com a mistura da depressão e a droga, era difícil algum tratamento que ajudasse a resolver os dois problemas ao mesmo tempo.

Esses longos anos a desfiguraram. Amanda perdeu mais de dez quilos. A sua fisionomia era de uma pessoa que não se alimentava há semanas. Devido a cocaína, sua pele começou a ficar manchada e escurecida. A linda mulher de antigamente não tinha como se comparar com a Amanda deste momento.


AGRESSÃO


Três anos depois do divórcio, Amanda continuava o seu romance com Alex, vizinho que ela anteriormente tinha traído seu ex-marido.

Em alguns surtos por causa da droga, Alex bateu diversas vezes em Amanda. As primeiras vezes, ela ficou calada. Segundo ela, Alex batia nela em lugares que ninguém iria ver, como em sua cabeça, suas costas e barriga.

Certo dia Amanda ligou para sua filha, disse que precisava ir para o hospital pois um acidente tinha acontecido. Ao chegar em sua casa, Ana se deparou com sua mãe totalmente desfigurada. Com os olhos inchados e roxos, marcas no pescoço, as pernas sangrando e algumas partes em sua cabeça faltando cabelo.

Após isso, Amanda deu queixa na polícia e acionou a Lei Maria da Penha. Isso significa que a lei estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica. E o agressor não pode mais ter contato com a vítima.


AJUDA DA FILHA


Em uma longa conversa com sua filha, Ana lembra que quando era criança tinha que levar os remédios de depressão da mãe para a escola, com medo dela tentar se matar. Fato que aconteceu algumas vezes.

Várias noites Ana ia ver a sua mãe em prontos socorros pois ela tinha tomado muitos remédios para se suicidar.

Ela também lembra de ir na casa de sua mãe, já na adolescência, e perguntar:

— Mãe, por que você está com o rosto roxo?

— Filha, eu sou desajeitada e devo ter batido em alguma porta de armário. Não é nada!

Amanda sempre escondia de sua filha as agressões. Ana a convenceu a dar queixa na polícia, pois não aguentava ver sua mãe sofrer e continuar passando por esse tipo de situação.


REENCONTRO


Amanda e sua filha perdiam o contato por semanas e às vezes até meses. A rotina das duas, durante muitos anos, foram se ver em visitas de hospitais psiquiátricos e também em clínicas de recuperação para dependentes químicos. Rotina essa que se estendeu por longos anos.

O elo mãe e filha se perdeu.

Antes de todas as visitas, Ana pedia a Deus que tirasse sua mãe dessa situação e que voltasse a ter a proximidade que elas tinham na sua infância.


TRAFICANTE


Certo dia que Amanda foi em uma rua muito conhecida em Curitiba, ponto alto da venda de drogas, a Rua Trindade, no bairro Cajuru. E ela conheceu Rafael*, um traficante pelo qual ela se apaixonou e viveram juntos por um ano. Ele sustentava o vício de Amanda, porém em troca disso, ela era proibida de sair de casa.

Novamente ela vivia em outro relacionamento abusivo.

O romance não durou por muito tempo.


NOVA GRAVIDEZ


Até certo dia Amanda engravidou e seu relacionamento acabou. Por coincidência, a sua nova filha nasceu um dia antes do aniversário de Ana, sua filha mais velha.

A sua incapacidade psicológica e financeira não a dava condições de criar sua filha sozinha. A sua gestação foi conturbada, passou por dificuldades e recaídas no seu vício.


ADOÇÃO


No dia em que nasceu, sua filha foi direto para a adoção. Sem nome e, naquele momento, sem família.

Amanda passou alguns dias no hospital e, quando estava indo embora, soube que devido o uso de cocaína durante os primeiros meses de gestação, sua filha desenvolveu um problema pulmonar.


FELICIDADE


Sua segunda filha foi adotada há dois anos e, há exatos dois anos, Amanda largou o seu vício e melhorou da depressão.

Hoje em dia, ela tem uma relação muito próxima com sua filha mais velha, Ana, que está com 20 anos.

Amanda está feliz e deixou todo o seu passado para trás.

Para ela, em toda sua trajetória de melhora, ela se agarrou em Deus. E um dos principais fatores da sua reviravolta foi seu atual namorado, que a fez enxergar novamente o sentido da vida e da felicidade.


*nome fictício dos personagens da história real.


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