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Eu, um biarticulado e datas especiais

  • Marieli Prestes
  • 29 de mar. de 2018
  • 4 min de leitura

Luciano Farias, 41 anos e uma bagagem que coleciona tantas histórias de vida que fica difícil escolher apenas uma para contar. Diariamente ele carrega centenas de pessoas em cada trajeto que realiza dirigindo o biarticulado da linha Centenário/Campo Comprido. “Eu amo o que eu faço, então eu sempre vou trabalhar de bem com a vida porque precisamos trabalhar né, então tem que gostar do que faz e eu não tenho dúvidas de que eu gosto do que eu faço”, afirma. E entre todas as histórias que se pode encontrar entre passageiros, motoristas e ônibus, há uma em comum entre todos eles: as datas comemorativas de cada ano.

Páscoa, dia das mães, dia das crianças, Natal. Como deixar de celebrar esses dias tão significativos de nosso calendário? Para muitos, a comemoração é sinônimo de descanso, feriado. Já para outros, a data é lembrada entre um expediente e outro de trabalho, assim como para o motorista Luciano. “É muito gratificante fazer esse trabalho. Quando vai chegando perto das datas, começa a dar uma ansiedade dentro de mim para começar a organizar tudo. Isso faz eu me sentir muito bem”.

Mas você deve estar se perguntando, aonde queremos chegar com tudo isso? E a resposta é contar como um simples, mas não tão simples, gesto e ação realizadas por Luciano podem transformar o dia de passageiros da linha em que ele está trabalhando em alguma data festiva. Desde pequeno, o motorista se encantava com a mesma ação que era realizada por um senhor que já faleceu, e isso o marcou de uma maneira tão forte que o fez sentir vontade de enfeitar os ônibus mesmo sem imaginar que, na vida adulta, ele se tornaria motorista. “Eu nunca pedi para o meu pai me levar para ver, mas aquilo me chamava muito a atenção. Eu gostava de assistir o jornal porque sempre mostravam o trabalho dele, e passados 30 anos eu consegui realizar um sonho de criança.”

Já são cinco anos de muita criatividade e bom gosto. Enfeites, fantasia, animação e espírito comemorativo não faltam para o motorista que levanta às 5 horas da manhã para decorar o ônibus que irá conduzir durante sua jornada de trabalho em datas como a Páscoa, por exemplo. Aliás, o próprio Luciano se fantasiar de palhaço, coelho da páscoa e papai noel é uma das características que mais chamam a atenção dentre tudo o que os passageiros podem observar.

A PRIMEIRA VEZ

Pode-se considerar que Luciano teve duas experiências como primeira vez em que enfeitou os ônibus, e a que mais o marcou foi o primeiro ônibus enfeitado em Curitiba, no dia das crianças. Neste dia, ele enfeitou o ônibus da linha interbairros II, se vestiu de palhaço e teve muita procura pela população curiosa, além dos veículos de notícias locais. Mas teve uma história que tornou esta data ainda mais marcante para ele.

Uma senhora de idade, que morava sozinha, assistiu uma das reportagens veiculadas na TV sobre as ornamentações do ônibus e ligou para um taxista solicitando uma corrida e o informando que o destino seria “o interbairros decorado”. Mesmo não sabendo do que se tratava, o taxista conduziu a senhora pela cidade até encontrarem o ônibus decorado no terminal do Hauer. Chegando ao encontro do interbairros, a senhora logo desceu do veículo em que estava, deu um abraço no motorista que estava fantasiado de palhaço, tirou uma foto e relatou que estava se sentindo feliz por ter encontrado o que ela queria naquele dia.

ANOS SEGUINTES

Farias começou enfeitando os ônibus da região metropolitana em que trabalhava, e há três anos vem alegrando as canaletas de Curitiba. Mas se engana quem acredita que todo o processo é simples. Ele precisou de autorização da empresa em que trabalha agora e também desembolsa de seu próprio salário a maior parte dos custos necessários para as ornamentações.

Ele também já tentou, mas sem sucesso, mobilizar mais motoristas a realizarem as ações em outras linhas de ônibus e até mesmo na linha em que ele próprio atua, pois assim mais pessoas teriam a oportunidade de sentir a sensação de alegria e surpresa ao entrar no transporte coletivo em um dia em que se gostaria de estar descansando.

Nos dias comemorativos, os horários previstos de chegada dos ônibus da linha Centenário\Campo Comprido nos tubos e terminais acaba sofrendo pequenos atrasos, pois somente Luciano tem a permissão de dirigir o biarticulado enfeitado. Durante o seu turno de trabalho ele coloca o veículo na rua, faz as viagens previstas e retorna para a garagem para recolher o ônibus e retirar os enfeites. No momento de recolhimento do ônibus em que Luciano está dirigindo, outro ônibus, sem enfeites, é colocado no lugar para realizar as viagens, o que ocasiona os pequenos atrasos.

Mesmo com todo o trabalho que se têm para realizar estas ações, os preparativos e o dinheiro gasto do próprio bolso, o motorista se sente cada vez mais feliz por proporcionar momentos únicos como esses para os seus passageiros, prova disso são as diversas reações de alegria que ele observa.

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