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Que tal uma encoxada no busão?

  • Shelbert Braz
  • 25 de mai. de 2017
  • 6 min de leitura

Foto: Internet

Se você acha o título dessa matéria um pouco vulgar, ou quem sabe, um sério desrespeito ao público feminino e incentivo ao abuso sexual, você precisa rever seus conceitos. Pois é exatamente isso o que acontece à luz do dia nas grandes metrópoles. Sim, isso é um fetiche disponível no mundo de transporte coletivo urbano.

Para começar com a gozação, vamos transcrever um trechinho de um conto erótico surrupiado da internet, em que, claro, as mulheres são estonteantes, e quase sempre loiras e de olhos verdes.

“Me chamo Lucia, sou loira 1,64 65kg olhos verdes, hoje tenho 36 anos, a história que vou contar é verdadeira e de tanto o meu marido pedir vou escrever, isso aconteceu mais ou menos no ano de 2000. Eu moro em Curitiba e em algumas vezes ia até o centro pra resolver algumas coisas isso era normal, em um determinado dia quando eu voltava era final da tarde muita gente pra pegar ônibus como sempre, tive que esperar na 3ª fila pra pegar um lugar pra sentar, bom foi isso que aconteceu entrei no ônibus e sentei no meio fiquei sossegada até que depois de andar um pouco entrou uma senhora e ficou em pé, fiquei com dó, pois ninguém ofereceu lugar então resolvi oferecer o meu pra ela, o ônibus tava superlotado tinha gente espremida nas portas parecia lata de sardinha, fiquei em pé do lado da velhinha, atrás de mim meio pro lado tinha um rapaz com uniforme de agasalho de uma loja de esportes, e uma mochila, (isso reparei depois), eu usava uma calça de lã cinza escura, que na época era comum e uma camiseta branca, tava bem tranquila, foi entrando mais e mais gente aquele menino veio atrás de mim então tive o cuidado de me virar meio de lado depois que ele encostou na minha bunda, fiquei esperta mas mesmo assim por duas ou três vezes ele encostou novamente não vou negar, senti o volume e o calor do ...( censura, digamos, instrumento sexual) ...dele na minha perna pois estava meio de lado pra ele, chegou ate me dar arrepios, eu e meu marido sempre tivemos fantasias e uma que meu marido sempre me falava era de deixar eu ser encoxada no ônibus sempre me dizia que se isso acontecesse era pra deixar rolar e depois contar pra ele” (...)

Fecham-se as aspas e feche seu zíper. Não é intuito desta matéria provocar a libido do leitor. Então vamos encerrar o conto erótico na metade, broxando sua curiosidade.

Abaixo, o comentário de um usuário a respeito deste conto:

“Excelente seu conto, vou passar para vc um link vc vai ver minha esposa sendo encoxada em um desfile de 7 de setembro em Fortaleza, cidade onde moramos. se vc tb quiser poderá nos add em nosso skype, mas por favor diga que vc é da casa do conto e a pessoa de curitiba.”

Provavelmente se esse cidadão fosse conceder uma entrevista diria que sua mulher foi abusada no ônibus se algo acontece envolvendo a polícia. Mas há inúmeros contos eróticos (anônimos, claro) com mensagens de baixo calão que não poderiam ser publicados aqui envolvendo ‘encoxadores’ e ‘encoxadas’.

Não vamos fazer desta matéria um jornalismo erótico, mas esta reportagem tentou de várias maneiras contatar uma voluntária no grupo do facebook “Mulheres que gostam de ser encoxada no ônibus de Curitiba”. Uma delas, Jessica Aroucha, (idade não declarada, mas com bem mais de 20 anos) foi adicionada por esta reportagem, não para ser encoxada, mas para conceder algumas palavrinhas. Porém - e infelizmente, segundo ela, foi adicionada à comunidade ‘por engano por um amigo’.

Uma semana depois, Jessica continua firme e forte no grupo de ‘encoxadores’, e finalizou sua participação nesta reportagem se esquivando com um simples “KKKK”. O grupo continua no facebook com 385 pessoas, mas ela não se comunicou mais com esta pequena reportagem, que balança entre a cidadania e erotismo. Dos 380 fetichistas, apenas 4 são mulheres, uma delas lésbica e uma travesti. O restante (99%) são homens dispostos a tudo para encoxar suas vítimas no biarticulado mundo dos encoxadores curitibanos.

Gilmara Andrade, se também não foi adicionada por engano, não quis dar entrevistas sobre suas aventuras num possante Volvo lotado, de 300 lugares em pé. No mundo biarticulado de Curitiba, não é diferente do metrô de São Paulo. No Rio já se tentou implantar o vagão rosa, apenas para mulheres, embora haja controvérsias a respeito de um vagão só para mulheres.

Mas nem só de pequenas gozações e fetiches se verificam nos ônibus. Uma estudante, que vamos chamar apenas de Sabrina, afirma ter sido abusada no ônibus de Curitiba e que desceu um tubo antes, porque um homem ejaculou em sua roupa. “Ele estava parado bem nas minhas costas, aproveitando de cada curva para se esfregar em mim. Tentei dar um passo pra frente, mas ele acompanhou, continuando encostado. Não bastasse ele começou a respirar muito forte por cima do meu ombro […]. Tentei empurrá-lo com o cotovelo, ir para outro lugar mas não tinha jeito. Ele continuou ali, se esfregando e gemendo”, relatou a jovem, que sofreu o abuso na linha Centenário/Campo Comprido. Este caso ficou meio famoso em

Curitiba e está em vários sites na internet.

Em outros sites, segundo outras fontes, ela estaria com uma embalagem de camisinha na mão, e que sua versão não é verdadeira. Difícil separar a verdade da mentira, o joio do trigo e fetiche do abuso. A foto foi omitida por ser extremamente nojenta.

Nilzete Santos, a respeito deste mesmo caso comenta que passou por abuso. “Passei por um constrangimento desse uma vez terminal da franca vila do Atlântico carro cheio chovendo muito um homem entrou em Itapuã ai começou a se esfregar chamei a atenção dele três vezes e ele dizendo que era o carro cheio mudei de lugar e ele me perseguiu pedir ao motorista pra acionar uma viatura que estava passando e os policiais pediu pra ele e eu descer; nesse momento que vi meu vestido todo sujo..ele tomou tanto pau dos policiais e como a delegacia nunca mais ele irá fazer isso novamente cheguei no trabalho toda suja..com muito ódio”.

Portanto, os episódios se misturam. Mulheres se dizem ser vítimas. Outras ‘querem ser vítimas’. Uma anunciante com nome de “Gordinha Delícia”, bairro Boa Vista, do site Viva Local, que recebe ligações até à meia-noite, colocou anúncio alegando que ...“ adora ser encoxada no ônibus”, pedindo para que homens entrem em contato e enviem número de telefone e horários e linhas de ônibus ‘propícios’ para seu fetiche. Mulher de atitute!...

Do ponto de vista legal, quando há comum acordo entre as pessoas, não há problema algum entre os fetiches, exceto por ser em um espaço público, que não é local de exercer o apetite sexual, tendo em vista que crianças podem estar perto e pode causar desconforto a um indivíduo que não queira espiar as sacanagens alheias.

O disposto no art. 61 da Lei das contravenções penais (DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941), diz que é uma infração penal que atenta contra a dignidade sexual do ser humano. Mas como sabemos existem leis que pegam e outras que não...além disso, a pena é apenas de multa neste caso específico.

O fenômeno, conhecido como “frotteurismo” (ato de esfregar-se em outra pessoa), é chamado nas comunidades investigadas pelos termos “encoxadas” e “encoxadores”. Há trocas de vídeos e sites específicos de ‘encoxadores’ na internet. Os celulares também são usados para filmar embaixo das saias de mulheres. (Sim, isso não é apenas um fetiche de adolescente da 7ª série tentando ver a calcinha da professora de inglês...)

Mas nem todo fetiche tem seu final feliz. Às vezes volta-se contra o “feticheiro”. Um dia é do pinto e outro é do cassetete. Dois anos atrás, em Saõ Paulo, 17 homens suspeitos foram presos (eles e seus pintos) pela polícia de São Paulo, por abuso sexual na CPTM ( Companhia Paulista de Trem Metropolitano), por abusar de mulheres, que nunca marcaram encontros pela internet.

No filme A dama da Lotação, 1978, a personagem de Sonia Braga é estuprada por seu próprio marido na noite de núpcias. A partir daí, ela passa a repudiar seu marido e encontrar-se com homens que conhece nos ônibus. Neste caso específico, a personagem esfrega a conhecida bunda das pornochanchadas brasileiras nos passageiros e se permite à sacanagem (como em quase todas as obras de Nelson Rodrigues).

Aqui no mundo real dos ‘ligeirinhos’ e das ‘rapidinhas’, as ‘encoxadas’ estão cada vez mais quentes e a todo vapor. Já há outros grupos de ‘encoxadores’, que vêm para somar nos ônibus. Há comunidades de gays que querem ser encoxados, de travestis, lésbicas, bissexuais (sim, ‘direitos iguais’), e outras variações que escapam do conhecimento sexual deste repórter. Logo, devido ao comportamento da sociedade atual, do aumento da população urbana e ônibus cada vez mais lotados, não se sabe quantas variações de ‘encoxadores’ poderemos ter dentro do mesmo ônibus nos próximos anos...nem onde estará havendo um abuso de fato ou um mero fetiche sexual sendo realizado em público, em plena luz do dia.

Portanto, um aviso ao entrar num transporte coletivo em Curitiba, principalmente aqueles que fazem as intermináveis linhas dos “inter-puta-que-pariu” lotados: entre rápido, olhe para frente, pros lados, pra trás; segure-se firme e cuide bem da sua bolsa.

Mas jamais, em momento algum, descuide-se das suas coxas e da sua bunda...

(Ou não)...

29/03/2017

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