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Dançar e sorrir, é só chegar

  • Paulo Metling
  • 4 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura


Travessa da Lapa, número 46, centro de Curitiba. “O Clube dos Solitários é um clube dançante onde as pessoas se encontram, fazem amizade e muitas vezes assumem compromisso”. A descrição é do baile dançante Clube dos Solitários em nome do amor Rosaldo Pereira que há três décadas faz parte da tarde e da noite de quem deseja dançar na capital.


A ideia do Clube dos Solitários surgiu nas mãos do jornalista Rosaldo Pereira, precisamente na voz. O programa Casamenteiro, da Radio Colombo em Curitiba, ficou no ar por quarenta anos, vinte e oito anos destes com o radialista Rosaldo, mais conhecido como a “voz de veludo”. O programa de rádio mais antigo do sul do país se materializou em um baile.



E é há trinta anos que o Clube dos Solitários atrai casais de amigos, apaixonados ou quem quer apenas dançar, com ou sem compromisso. Maria das Graças, 62, frequentava o baile com o esposo que anos depois chegou a falecer, mas a paixão pela dança a fez continuar no ritmo. Há oito anos, Airton Antunes do Nascimento, 72, descobriu a parceria de Maria para além da dança e juntos fazem parte da dezena de casais da noite. “Dançar é muito bom, a gente se sente alegre, além de ser divertido estar aqui, ver e conhecer outras pessoas”, diz Maria que nunca perde o horário do baile com o companheiro Airton, que diz não ter casado, só “amasiou” (morar junto com alguém sem ter um casamento com papéis assinados) com a parceira de dança.


Dos compromissos que surgem no baile estão o da amizade de Iracema Mazeik, pouco mais de cinquenta anos, e Antônio Gonçalves, 77. Os dois se conheceram nos “ bailes da vida”, como diz Antônio e fazem questão de dançar juntos há pelo menos dez anos. “Aqui é um ambiente para dançar, mas dá para se divertir e conhecer muitas pessoas, tem gente que eu conheço há anos e até frequentam a minha casa, amizade mesmo”, diz Iracema, sorrindo com o copo d’água nas mãos ao som gauchesco de raiz.


Os clubes de dança espalhados pela cidade têm sua própria programação. Geralmente funcionam seis dias por semana e atraem idosos e jovens que querem dançar ou conhecer uma pessoa para ter um relacionamento amoroso. “Nosso público é diverso, tem muita gente idosa e jovem também”, diz Rosaldo Pereira convidando a conhecer o baile de dança.


No ritmo da dança


Este texto poderia continuar com as seguintes sugestões: onde encontrar os bailes da terceira idade da cidade; benefícios a saúde de idosos que frequentam bailes ou até para conhecer em uma lista os bailes para a melhor idade em Curitiba. Mas não. É uma história de uma vida que foi diferente por causa da dança.


Os bailes dançantes na capital paranaense atendem a todos os públicos, mas em alguns, os maiores frequentadores são os idosos. Há clubes de dança que só permitem a entrada em casal, já outros não precisa estar acompanhado e pode até reservar uma mesa e aproveitar a noite com outra pessoa que apareça só para dançar.

Promovem concursos e premiações, algo para motivar os clientes que frequentam a participarem cada vez mais. O repertório de músicas é diversificado, vai desde o estilo sertanejo, gaúcho, bolero à eletrônicas, ritmos dançantes com passos e movimentos diferentes. A vestimenta pode ser comum e despojada, mas caso haja algum baile temático o cliente pode ir a caráter – e entrar no embalo. Os horários de funcionamento dos clubes dançantes iniciam no período da tarde, entre as 16h00, e alguns continuam até depois da 00h00.



“Fui eu quem chamei o Carlos, ele mal tinha chego, percebi que ele não viria dançar, então fui chamar aquele velhinho, queria ver se ele sabia dançar”, - e soube


Uma história que poderia ser meramente parecida com outras, mas não é. Fani Andrade nasceu em Rio do Sul, município do estado de Santa Catarina, o local que tem forte influência germânica e italiana também está presente na vida de Fani. Descendente de italianos percebeu que a rigidez do pai ia além de suas origens, sempre teve respeito por todos, mas nunca permitia os filhos saírem de noite. Quando adolescente nunca havia conhecido um baile dançante. Aos 19 anos casou-se e fez de Curitiba sua morada.


Aos oitenta e quatro anos, com aproximadamente 1,65 de altura, cabelos castanhos, pele branca e olhos claros Fani descobriu a essência da dança em seus setenta e poucos anos. Pois durante os cinquenta anos que fora casada nunca havia frequentado uma casa de danças, diz que dançou poucas vezes. Mas foi após quatro anos da morte do marido, a convite de uma amiga, que resolveu conhecer um tal de baile dançante.


Sinônimo de baile é dança, e dança é sinônimo de brilho nos olhos de que quem vive na essência a experiência de dançar, - ao menos para Fani. A primeira vez que colocou os pés no baile a sensação foi de estranhamento. “Foi esquisito, me chamavam e tiravam para dançar e dizia não, pois nunca tinha ido a um a um baile para dançar”. Mas aos poucos foi dançar, quando percebeu doze anos havia se passado e a dança mudou a vida de quem nem sabia que poderia ser feliz e sorrir cada vez mais por conta disto.


Foi ali no Fascinação Festa e Dança, no bairro Bacacheri, que começou a dançar e tempos depois viu alguém que pudesse ser parceiro na dança. A parceria foi além de dois passos para cá ou para lá. Fani é que chamou Carlos para uma rodada de dança, dali em diante começaram a se relacionar, frequentar outros bailes de dança e a ganhar diversos prêmios.


Fani e Carlos era um novo casal que chamava a atenção de quem presenciava a dança dos dois. Sempre ganhavam os “parabéns”, tornaram as disputas por troféus acirradas, e levaram para casa mais de dois. Além disso os concursos de rainha e princesa faziam parte da noite, um destes, dois para ser exato, Fani levou o título de princesa do baile.


A senhora que nunca tinha pretensão de dançar viu a mudança surgir e gostou. Foi “maravilhoso, muito bom”- aprendeu a dançar de “verdade”. A cada noite de baile sempre havia toda uma preparação, que estendiam desde os sapatos, vestidos e saias coloridas e floridos como mostra com carinho. A faixa de princesa que coleciona é a prova de quem se comprometeu em aprender e gostar de dançar, se destacar por querer sempre incluir a dança em sua vida para além de entretenimento. Diz que a dança foi uma das melhores coisas que apareceu em sua vida e que permitiu bons momentos.


Ela sempre ia aos bailes de noite, pois acredita que tem coisas que só são feitas no decorrer do ritmo do dia, uma delas é dançar. Para dançar não existe idade, mas iniciativa de aprender. “Fui eu quem chamei o Carlos, ele mal tinha chego, percebi que ele não viria dançar, então fui chamar aquele velhinho, queria ver se ele sabia dançar”, - e soube. Durante doze anos, Carlos, foi o companheiro além da dança de Fani, mas de parte de sua vida, há pouco mais de um mês faleceu em decorrência de problemas de saúde. Mas a dança continua presente na vida de Fani que aconselha quem pretende descobrir a dança: se você entrar no baile e gostar, ver que combina e acha legal, entre lá e aproveite! ”


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