Esferocromia? O que é isso?
- Sirlene Araújo
- 17 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

Será uma doença? Ou a cura de uma? Um remédio talvez? Seria de comer? Da para vestir? Ou quem sabe é uma espécie de atividade física? Um esporte? A resposta é nenhum, nem outro. Esferocromia foi o nome dado por um artista curitibano, o senhor Antônio Lima, para a arte de colorir com caneta esferográfica.
Em 1985, o então formado administrador de empresa, começa a desenvolver sua técnica com canetas esferográficas de várias cores. E então cria o nome esferocromia, palavra grega onde esfero é caneta e cromia é cores. Dez anos mais tarde, 1995, ele deixa tudo para dedicar-se apenas ao trabalho como artesão. Atuou como professor no shopping Estação, no Serviço Social do Comércio (SESC) e na Fundação Cultural de Curitiba (ruas da cidadania).
O autodidata, seu Lima como prefere ser chamado, conseguiu viver com a renda de suas atividades como professor e também comercializando seus trabalhos. Foi com a venda que ele diz ter perdido muito de suas obras originais. Mais tarde, como todo pai ciumento, começou a vender apenas cópias e deixar a original armazenada em seu acervo pessoal.
Cada obra levava em média de 2 a 5 dias para ficar pronta. Apenas trabalhos pequenos, quadrinhos que cabem na palma da mão, é que duravam algo em torno de 3 a 5 horas. Coloridos muitas vezes em sucatas, como ele mesmo se refere, no verso de caixas de gelatinas, por exemplo, ele vendia aos trios e conseguiu viver por muitos anos com a renda provinda disso. Obras maiores, como pude apreciar na representação do quadro da Santa Ceia, seu Lima ampliava em gráficas e emoldurava, agregando assim um maior valor ao trabalho.
Os desenhos vão desde a reprodução do fundo oceânico até o índio que enfeita a estampa de uma revista. Reproduções quase que fiéis às escolhas que faz. “Bastava olhar algo que me chamasse atenção, que eu ia logo pedindo para uma gráfica ampliar, e depois de riscar no molde, lá estava eu a colorir, e o resultado são esses”.
E que resultados, a olho nu pude ver pinturas de um barco e os pescadores ao horizonte, os personagens da Disney, os cavalos cavalgando, a onça de expressão serena, e o trem nos trilhos da serra do mar. Também admirei, em riscos coloridos, os pássaros e as flores, inclusive a flor amor perfeito que fez jus ao nome. Admirei o mar e o urso panda, a coruja e os girassóis, e Charles Chaplin e Ayrton Senna em seu carro veloz.
Em 1999, a repórter do jornal Estado do Paraná, Katia Michele, contou sobre o trabalho que seu Lima desenvolvia com crianças. A manchete “Esferocromia, uma arte ao dispor das crianças”, deixava claro o enfoque que ela quis dar à vida do personagem. Na ocasião, aos 44 anos de idade, o artista plástico trabalhava com crianças com deficiência.
Hoje, passados 18 anos desde então, seu Lima deixou de se dedicar a uma arte e passou a dedicar-se a outra, não menos importante. Em 2013 passou a ser apenas artista da vida, passa seus dias se dedicando à arte de ser filho, cuidando da mãe que aos 90 anos de idade sofre de Alzheimer. Mas, nos olhos ainda enxergo o artista plástico ao admirar seus trabalhos. Na voz, não consegue esconder, ao se emocionar contando aos detalhes a história de cada um deles. Nas mãos, a mesma paixão ao segurar a caneta cor-de-rosa e mostrar-me os primeiros passos ao aprendizado de sua técnica. E por cada canto da casa a prova de anos de dedicação. Quadros nas paredes ainda protegidos com papelão, mostrando o zelo e medo de o tempo destruir o que por horas produziu. Trabalhos inacabados que ainda fala em dar os últimos retoques. No quartinho de dispensa, as molduras vazias a espera de um trabalho que ainda não chegou.
Seu Lima pensa em voltar ativa, fala, planeja, mas não sabe quando e se isso será possível. Por enquanto, se alegra ao receber alguns amigos e poucos alunos que fazem na companhia dele, arterapia. Passam horas e horas ali pintando e jogando conversa fora. E fora, Seu Lima só joga mesmo a conversa, porque as obras, permanecem ali, guardadas a sete chaves, sob olhar cuidadoso do artista.
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